Saturday, December 09, 2006


Gostavas de coisas simples. Apesar da tua exigência, por vezes obsessiva, principalmente contigo própria.
Na nossa viagem à Bretanha, em Point-du-Raz, lembro-me daquele caminho já meio escuro, de regresso ao carro. Tínhamos acabado de ver o pôr-do-sol, um dos mais bonitos das nossas vidas. Estavas inquieta, não havia mais ninguém por perto e a noite descia irremediavelmente. O caminho era sinuoso, mal assinalado e o carro ainda estava longe. Naquela brisa sentimos o (en)canto das ondas lá em baixo, muito abaixo daquelas falésias e rochedos fantasmagóricos. O vento e a névoa fresca completavam o cenário, copiado de um filme de David Lynch. Queria acalmar-te e segurei a tua mão ainda com mais firmeza. Prometi que te protegeria para o resto das nossas muitas vidas. Depois olhei para o lado, e numa pequena erva estava pousado um pirilampo, também ele frágil e assustado. Arranquei cuidadosamente a erva e coloquei-a nas tuas mãos. Ficaste radiante, pulaste de felicidade à minha volta, dançaste, rimos e abraçamo-nos. "Nunca ninguém me tinha oferecido um pirilampo, meu menino mágico", disseste-me baixinho. Os teus olhos brilharam mais do que mil sóis, iluminaram tudo à nossa volta. Fizemos o resto do caminho sem sobressaltos. Eu, tu e aquela lanterninha esverdeada, cintilante. Agora tu é que mostravas o caminho.
Falaste-me do nosso pirilampo durante anos.
Como posso esquecer? O teu olhar ficou-me impregnado na alma, na pele, na vida. Tanto que ainda hoje rasgo o sorriso e o meu coração bate muito mais forte quando me lembro desse momento.
Gostavas de coisas simples e nunca tinhas recebido um pirilampo. E eu, eu nunca tinha feito ninguém tão feliz.