Estas viagens de trabalho, que faço pelo país, estão mais vazias. Infinitamente vazias. Quando regresso, o caminho já não faz sentido, já não tenho destino. As árvores viram-se de costas para a estrada, o céu estende-se no alcatrão, e as curvas parecem irmãs gémeas das rectas. Arrasto-me sem a noção do tempo nem da distância, quilómetros e quilómetros sem sentidos, nem únicos nem proibidos.
Não me lembro se ainda vou para lá ou se já estou de volta.
Depois olho para o banco ao meu lado e vejo-o ocupado, não existe vazio. São imagens de fotos em andamento, risos e sorrisos, olhares ingénuamente atrevidos, cruzados. São as conversas de grandes viagens nas pequenas viagens.
Agora vejo que é esse o meu sentido, o meu refúgio e destino final. É esse chegar a algum lado que está sempre ao meu lado.
Aquele infinito distante és tu, sempre ali, sempre tão perto.
Afinal já cheguei.
Afinal nunca parti.
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