Sunday, December 31, 2006


Recordo-te como eras no último outono.
Eras a boina cinza e o coração em calma.
Em teus olhos pelejavam as chamas do crepúsculo.
E as folhas caiam na água de tua alma.

Apegada a meus braços como uma trepadeira,
as folhas recolhiam tua voz lenta e em calma.
Figueira de estupor em que minha sede ardia.
Doce jacinto azul torcido sobre minha alma.

Sinto viajar teus olhos e é distante o outono:
boina cinza, voz de pássaro e coração de casa
fazia onde emigravam meus profundos anseios
e caiam meus beijos alegres como brasas.

Céu desde um navio. Campo desde os cerros.
Tua recordação é de luz, de fumaça, de tanque em calma!
Mais além de teus olhos ardiam os crepúsculos.
Folhas secas de outono giravam em tua alma.


(Pablo Neruda)

Saturday, December 30, 2006


Pormenor da tua cómoda, quando partiste para a Patagónia...

Friday, December 29, 2006


A tua ausência, presente e permanente envelhece-me o corpo e a alma, lentamente, a um ritmo cada vez mais certo. É difícil andar na praia, olhar para trás e não ver também as tuas pegadas na areia. Não consigo habituar-me a esta ideia estúpida e estropiante.
E assim vou-me diluindo ao sabor das ondas, lágrima a lágrima.
Sinto a tua presença à minha volta, dentro de mim, mais que nunca. Quando respiro é por ti, quando sorrio é por ti, quando penso existo em ti.
Nunca foste tão escrita, tão lida, tão pensada, tão amada. Não respondeste ainda às mensagens, nem aos posts e nunca o vais fazer, bem sei. Mas olha que muita gente também sente a tua falta. Acho mesmo que estás a fazer fita. Muitas vezes queixavas-te que havia sempre alguém que se esquecia de ti. “Mandei mensagem ao pessoal para irmos à esplanada beber um copo e ninguém me responde… ‘da-se…”.
Agora, só para chatear és tu que não respondes.
Deves estar bem aí, algures, nesse sítio onde tu estás.
Com vista para todos os Tejos do mundo.
De certeza que daí “controlas” tudo.
O que se diz de ti. O que se faz sem ti.
O que aqui se faz por ti.

Thursday, December 28, 2006


Pronuncio o teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.

Pronuncio o teu nome,
nesta noite escura,
e o teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.

Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra vida me espera?
Será tranquila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!

(Garcia Lorca)

Wednesday, December 27, 2006

Há palavras que não me saiem da cabeça... Tejo Cinema Bretanha Graça Godinho Lua Escócia Seinfeld Mãe Bonsai Nheco Imperial Paris Estante Camané Tufo Farol Contos Velas Deserto Jornal Waterboys Livro Açores Tango Flores Bizarrocos Noite Campânulas Humor Óbidos Esplanada Patagónia Darko Jobim Irlanda Terraço Blog Infiltração Astúrias Tim Burton Guiness Viagens...
Farrusco Sardinhada Sumo de Laranja Morcego Poesia Atrasada Incógnito Passeio Jack Skellington Fado...

Tuesday, December 26, 2006


Sempre que eu ia fotografar, pedias que te enviasse algumas fotos do que eu tinha feito nesse dia. Hoje a luz esteve muito bonita, iluminou o mar, as ondas e o céu, como se tudo à minha volta fosse mandado pintar por ti.
Envio-te esta foto que tirei ao final da tarde, sei que vais gostar.
É bom sentir a brisa, o mar e a força que vem dele.
Que vem de ti.

Monday, December 25, 2006


Saudade (do lat. solitáte, «solidão»)

1. Sentimento melancólico causado pela ausência ou pelo desaparecimento de pessoas ou coisas a que se estava afectivamente muito ligado, pelo afastamento de um lugar ou de uma época, ou pela privação de experiências agradáveis vividas anteriormente;

2. (plural) Cumprimentos a uma pessoa ausente; lembranças;

3. (plural BOTÂNICA) Nome de várias plantas da família das Dipsacáceas e das Compostas, e das flores respectivas;

morrer de saudades sentir muito a falta (de);

(in Dicionáio Porto Editora)

Sunday, December 24, 2006


Através das tuas lentes
(Texto enviado pela minha querida prima Teresa)

Entry: 1
Time: Fri Jan 16, 2004 05:03pm
Name: MJM
City: Lisboa
Message: "Gostei tanto que nunca mais vou parar de ver o mundo através das tuas lentes."

"Foi a primeira assinatura do teu Guestbook.
Foi verdade. É verdade. Será sempre verdade.
Continua a ver a beleza que está invisísel aos nossos olhos distraídos.
Mesmo quando pedimos ao sol para se apagar para não podermos ver a nossa dor;
Mesmo quando pedimos ao sol para não aquecer os nossos ossos frios de tanta solidão;
Mesmo quando pedimos ao mar que se aquiete para não pertubar o nosso desprendimento da vida;
Mesmo quando pedimos ao mar que não lave a nossa cara salgada de lágrimas não choradas;
Mesmo quando pedimos à Primavera que pare o inevitável ciclo da vida para não percebermos que para nós o tempo parou naquele dia;
Mesmo quando pedimos à Primavera que nos devolva o Inverno em que nos sentimos mergulhados na água de que somos feitos, envoltos no frio do nosso coração, com a alma cinzenta para não destoar do retrato a preto e branco em que vivemos;
Mesmo assim,
Tens que continuar a ver a beleza da luz, do mar, da vida.
Pois só através das tuas lentes,
Alguém poderá continuar a ver o maravilhoso mundo da existência.
Continuar
Continuar sempre
Continuar melhor
Como um tributo
Como uma necessidade
Como um refúgio
Até a dor se tranformar em paz."

Obrigado, Teresa...

Saturday, December 23, 2006


De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.


(Vinicius de Moraes)

Friday, December 22, 2006

"Chegámos!", pensei.
A viagem foi cansativa, mas a aterragem foi suave. A azáfama dos minutos seguintes adivinhava-se e fez-me lembrar um pequeno formigueiro. Daqueles formigueiros onde parece quase impossível albergar um milhão de formigas. Os solavancos sucessivos durante o longo percurso entre o avião e a sala de recolha das bagagens faziam-me cócegas. Sempre fizeram. Lembro-me daquela viagem quando voltámos da Irlanda, a trepidação das rodinhas da mala de viagem faziam-me cócegas no corpo todo. Como a viagem a Paris e aos Açores e à Madeira. E a todo o lado onde fomos.
As vozes incompreensíveis dos funcionários e do pessoal da manutenção dos aviões multiplicavam-se às dezenas. Os sons de motores, uns que se aproximavam, outros que se afastavam, o barulho mecânico das passadeiras rolantes o som ainda quente das turbinas do avião faziam crescer ainda mais a ansiedade. Depois mais solavancos, e mais passadeiras rolantes. E mais vozes. Tudo nos era já familiar, embora não conseguíssemos decifrar uma única palavra. Tínhamos no entanto a certeza que esta interminável viagem estava prestes a chegar ao fim. Parecia um sonho.
Finalmente o silêncio instalou-se e o frio preencheu o espaço à nossa volta. Descansámos um pouco, mas agora a ânsia do reencontro, de ver aquela cara tão querida e familiar era quase insuportável.
Continuámos à espera, aguardando impacientes que nos viesse buscar. Os minutos amontoaram-se desordenadamente, as horas chegaram e varreram os minutos sem pedir licença. Mais horas se juntaram às primeiras e dos minutos já não havia memória.
"Será que se esqueceu de nós?", perguntei-me. Já aconteceu terem-nos mandado para Roma quando vínhamos de Viena de Áustria. Mas as vozes eram de uma linguagem familiar. Sim, estávamos em Lisboa, disso não havia dúvida. Mas ninguém nos vinha buscar.
Ao fim de algum tempo ocorreu-me o mais óbvio naquela situação. Claro, temos que ir às reclamações, aos "Perdidos e Achados". Tentámos encontrar o caminho no meio daquela confusão, mas...
Mas tão repentinamente como me veio esta ideia, ela se desfez. Mil pedaços de uma ideia antes simples e cheia de sentido, agora transformada em estilhaços. Sabia que os passageiros podiam reclamar as bagagens extraviadas, ou mesmo perdidas. Mas e o contrário? Não havia nenhum gabinete no aeroporto, nenhum balcão nem sequer um cantinho com uma placa que dissesse "Passageiros Perdidos e Achados". Não havia sítio para reclamar. Não havia sítio para existir.
Nós éramos a bagagem perdida, e ali ficámos.

Wednesday, December 20, 2006

Ausência

Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.


(Sophia de Mello Breyner Andersen)

Tuesday, December 19, 2006


Os nossos "Trafulhaz", na neve que nos uniu. Esta neve que nem o sol, nem o tempo, nem a memória fará derreter. Cada cristal é como cada segundo vivido por nós, único e deslumbrante.

Sunday, December 10, 2006

Quando durmo faço..... z z z z z z z z z z z z z z.......

Saturday, December 09, 2006


Gostavas de coisas simples. Apesar da tua exigência, por vezes obsessiva, principalmente contigo própria.
Na nossa viagem à Bretanha, em Point-du-Raz, lembro-me daquele caminho já meio escuro, de regresso ao carro. Tínhamos acabado de ver o pôr-do-sol, um dos mais bonitos das nossas vidas. Estavas inquieta, não havia mais ninguém por perto e a noite descia irremediavelmente. O caminho era sinuoso, mal assinalado e o carro ainda estava longe. Naquela brisa sentimos o (en)canto das ondas lá em baixo, muito abaixo daquelas falésias e rochedos fantasmagóricos. O vento e a névoa fresca completavam o cenário, copiado de um filme de David Lynch. Queria acalmar-te e segurei a tua mão ainda com mais firmeza. Prometi que te protegeria para o resto das nossas muitas vidas. Depois olhei para o lado, e numa pequena erva estava pousado um pirilampo, também ele frágil e assustado. Arranquei cuidadosamente a erva e coloquei-a nas tuas mãos. Ficaste radiante, pulaste de felicidade à minha volta, dançaste, rimos e abraçamo-nos. "Nunca ninguém me tinha oferecido um pirilampo, meu menino mágico", disseste-me baixinho. Os teus olhos brilharam mais do que mil sóis, iluminaram tudo à nossa volta. Fizemos o resto do caminho sem sobressaltos. Eu, tu e aquela lanterninha esverdeada, cintilante. Agora tu é que mostravas o caminho.
Falaste-me do nosso pirilampo durante anos.
Como posso esquecer? O teu olhar ficou-me impregnado na alma, na pele, na vida. Tanto que ainda hoje rasgo o sorriso e o meu coração bate muito mais forte quando me lembro desse momento.
Gostavas de coisas simples e nunca tinhas recebido um pirilampo. E eu, eu nunca tinha feito ninguém tão feliz.
SHE IS SO BEAUTIFUL (MP3)

She is so beautiful
I've got no words to describe
The way she makes me feel inside
I'm flying solo
As free and as light as a bird
yet I could lay my wings down in a moment
To guard and comfort her

She is so beautiful
Light-filled, loving and wise
Laughter dancing in her eyes
All my road is before me
And I never did plan on a wife
Yet she's the most beatiful soul
I ever have met in this life

For she is like a song
She is like a ray of light
She is like children praying
Like harps and bells and cymbals playing
And she is like a wind
Moving, soothing, bringing joy
And here am I, destroyed
She is so beautiful
I don't know what I'm going to do when I leave
Except grieve.


(Waterboys - The Whole Of The Moon - Original Release Date: October 6, 1998)

Thursday, December 07, 2006



Começo com esta foto tua, a tua preferida...
Irónico, efémero e absurdo, o teu primeiro post...
A necessidade de expelir o que me vai na alma, obriga-me a vir povoar estas Terras de Bruma. O nosso Entre Nós fica assim, por motivos de ordem técnica, suspenso. Tal como tu me deixaste.
Vi num outro blog a tua data de nascimento, seguida de outra data, muito recente. A primeira podemos aceita-la com certa, embora tu já eras antes de o seres. A segunda não existe. Ainda não pode existir. Disse-te que tínhamos mais de mil vidas para saborearmos e não penses que te escapas assim. Estas Terras são tuas, e são de uma Bruma muito bonita. Dignas de uma alma Celta.