Saturday, January 27, 2007


Hoje o pôr-do-sol esteve bonito.
Não pelo sol ou pelas cores do céu. Nem mesmo pelos reflexos dourados no mar, aqueles que dançam ao ritmo das ondas.
Esteve bonito porque estavas ao meu lado. Estavas um pouco tímida ao princípio, mas aos poucos foste-te mostrando. Quanto mais te recordava, mais te sentia junto de mim.
Falei-te sobre memórias vívidas das nossas brincadeiras. Sobre as nossas surpresas, os bilhetes que deixávamos escritos, espalhados pela casa.
Lembrei-te dos nossos beijos ciganos e dos nossos Elfos. Das cervejas que bebíamos no terraço da casinha da Graça e de como ficavas hipnotizada a ver a lua a nascer por cima do Tejo.
Ainda temos tanto para partilhar, como este pôr-do-sol.
Tenho ainda tanto para te mostrar.
"Voa comigo, eu levo-te. Prepara-te para sentir". Esta foi a tua última mensagem, guardo-a no coração como um mandamento.
Enquanto houver memória estarei sempre ao teu lado.
Voaremos sempre juntos.

Wednesday, January 24, 2007


Dois meses, só queria voltar para trás dois meses.
Era só para te contar um segredo, um sonho que tive no futuro.

Tuesday, January 23, 2007

Lembro-me particularmente da nossa primeira dança, ao som dos Fairground Attraction.
Puxaste-me para a pista daquela discoteca já quase vazia.
Nunca me esqueci da letra, nem daquele momento...

[...]
"Life is too short to play silly games
I've promised myself I won't do that again.
It's got to be perfect
It's got to be worth it... yeah." [...]

A seguir beijaste-me, foi o nosso primeiro beijo. Foi como se tivesse sido atinjido por um raio.
Disse-te logo que acabavas de mudar a minha vida para sempre.
Para sempre!
Mal sabia o verdadeiro significado do que eu próprio estava a dizer.
Faz hoje cinco anos.

Foi um amanhecer tão bonito e tão efémero.

Thursday, January 18, 2007

[...]
"Chegou um tempo em que não adianta morrer,
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem."
[...]

(Carlos Drumond de Andrade - in "Os ombros suportam o mundo")

Monday, January 15, 2007

Há dias que ser nuvem até faz algum sentido.
Esvanecer-se, sem ninguém dar por isso, sem ninguém sentir a falta. Sem ser preciso tratar de certidões nem de fazer mudanças das coisas que ficam para trás. As recordações e as saudades serem suaves, aconchegantes como a brisa ao fim do dia.
Há dias que apetece mesmo ser nuvem.

Saturday, January 13, 2007


Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimónia, viríamos todos assistir
à despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão subtil... tão pólen...
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de inverno
ainda tocada por um vento de lábios azuis...

(José Gomes Ferreira)

Friday, January 12, 2007


Estas viagens de trabalho, que faço pelo país, estão mais vazias. Infinitamente vazias. Quando regresso, o caminho já não faz sentido, já não tenho destino. As árvores viram-se de costas para a estrada, o céu estende-se no alcatrão, e as curvas parecem irmãs gémeas das rectas. Arrasto-me sem a noção do tempo nem da distância, quilómetros e quilómetros sem sentidos, nem únicos nem proibidos.
Não me lembro se ainda vou para lá ou se já estou de volta.
Depois olho para o banco ao meu lado e vejo-o ocupado, não existe vazio. São imagens de fotos em andamento, risos e sorrisos, olhares ingénuamente atrevidos, cruzados. São as conversas de grandes viagens nas pequenas viagens.
Agora vejo que é esse o meu sentido, o meu refúgio e destino final. É esse chegar a algum lado que está sempre ao meu lado.
Aquele infinito distante és tu, sempre ali, sempre tão perto.
Afinal já cheguei.
Afinal nunca parti.

Wednesday, January 10, 2007

Há 35 anos, precisamente a esta hora, nascia uma estrela, diferente de todas as outras. O mundo não voltou a ser igual.
Hoje não tenho a nova série do Seinfeld para te oferecer, nem uma televisão a preto-e-branco de campismo para pores na cozinha, nem sequer um livro do Tim Burton. O que eu te queria oferecer era um mundo inteiro, cheio de oceanos e montanhas, glaciares e lagos e ilhas com muita neblina. Desertos de areia fina e infindáveis pôr-do-sol. Queria oferecer-te dias de céu azul e noites de estrelas sorridentes, tardes inteiras de esplanada, passeios à beira Tejo, de mão dada e conversas vadias. Oferecia-te o meu coração para brincares, o meu olhar no teu olhar, o meu conforto no teu abraço infinito. Queria dançar contigo até à exaustão e ensinar-te a andar de bicicleta. E embrulhava tudo isto em papel de certeza-de-tudo-o-que-te-disse desde que te conheci.
Mas agora já tens tudo isso, e eu tenho a felicidade de ter feito parte da tua vida para te oferecer. Espero que gostes porque não aceitam trocas.

Tuesday, January 09, 2007


Esperava-te sempre ao final de mais um dia de trabalho.
Trepava para cima do frigorífico e ficava a olhar pela janela. Ali em cima conseguia ver melhor quando chegavas à Graça.
Esperava-te sempre, enquanto a ansiedade me encolhia o corpo, me tornava cada vez mais pequeno a cada minuto que passava e não te via chegar.
Nos meus olhos já crepitava o nosso reencontro, o nosso abraço beijado e as nossas conversas ao jantar.
Sabia que ias chegar nervosa, angustiada com o pensamento de não teres dado o teu melhor na redacção. Das discussões e dos mil-e-um obstáculos que enfrentavas em cada reunião e telefonemas que tinhas que fazer. E o que me dava mais prazer era saber que eu estaria ali, para ajudar-te a esquecer os teus maus momentos. Sempre soube que contavas comigo e eu gostei sempre de te fazer rir, sabia que isso alivia-te o stress. E a doçura do teu olhar renascia. Para mim, o meu dia começava aí de verdade, isso fazia-me feliz.
Esperava-te sempre, às vezes horas, e só quando chegavas é que eu me sentia em casa.
E voltava ao meu tamanho normal.

Sunday, January 07, 2007


Hoje já não consigo escrever-te. Volto apenas a colocar os teus mundos na estante e fecho os olhos um pouco. Ainda há tanto para te ler... tanto para te conhecer.

Friday, January 05, 2007

Levar-te à boca,
beber a água
mais funda do teu ser -

se a luz é tanta,
como se pode morrer?


(Eugénio de Andrade)

Wednesday, January 03, 2007


Eu sabia... tinhas que estar algures na Graça. Não trocavas o Tejo por sítio nenhum do mundo.
Mysteries by Beth Gibbons

God knows how I adore life
When the wind turns on the shores lies another day
I cannot ask for more

When the time bell blows my heart
And I have scored a better day
Well nobody made this war of mine

And the moments that I enjoy
A place of love and mystery
I'll be there anytime

Oh mysteries of love
Where war is no more
I'll be there anytime

When the time bell blows my heart
And I have scored a better day
Well nobody made this war of mine

And the moments that I enjoy
A place of love and mystery
I'll be there anytime

Mysteries of love
Where war is no more
I'll be there anytime